Governo Militar
Boicote ao Militarismo
No dia 2 de setembro de 1968,
durante o pequeno expediente, momento da sessão na Câmara dos Deputados
utilizados pelos deputados para fazerem breves comunicados, sobe a tribuna o
deputado oposicionista do Movimento Democrático Brasileiro MDB pelo Rio de
Janeiro, Márcio Moreira Alves, defendendo um "Boicote ao Militarismo".
Em 1967 assumia indiretamente o
segundo presidente do Governo Militar Costa e Silva, pertencente à ala
considerada linha dura do algo comando militar. Paralelamente ao seu governo,
diversos setores da sociedade protestavam, destacando-se o movimento
estudantil, sendo violentamente repreendido. A primeira greve operária durante
o governo militar aumentaram ainda mais os ânimos, prometendo o presidente que “toda ação tem uma reação”, ocorrendo uma
intervenção nos sindicatos.
Os ex-políticos cassados Carlos
Lacerda, João Goulart e Juscelino Kubitschek criaram a Frente Ampla, buscando
alternativas por mais democracia, sendo ela proibida pelo governo. Na
comemoração do dia do trabalhador, o governador de São Paulo é alvo de um
ataque violento por algumas pessoas. Já no Rio de Janeiro, são registradas na
passeata 100 mil pessoas, contra o governo. Um carro bomba é jogado contra um
quartel matando o jovem soldado Mário Kosel Filho.
A temperatura política estava acima
do normal. No dia 30 de agosto vários deputados denunciavam os excessos de
violência. Três dias depois, o deputado oposicionista fazia o discurso que
entraria para a história.
“Senhor presidente, Senhores
deputados. Todos reconhecem, ou dizem reconhecer, que a maioria das Forças
Armadas não compactua com a cúpula militarista, que perpetra violências e
mantém este país sob regime de opressão. Creio haver chegado, após os
acontecimentos de Brasília, o grande momento da união pela democracia. Este é
também o momento do boicote. As mães brasileiras já se manifestaram. Todas as
classes sociais clamam por esse repúdio à violência.
No entanto, isso não basta. É
preciso que se estabeleça, sobretudo por parte das mulheres, como já começou a
se estabelecer nesta Casa por parte das mulheres parlamentares da Arena, o
boicote ao militarismo. Vem aí o Sete de Setembro. As cúpulas militaristas
procuram explorar o sentimento profundo de patriotismo do povo e pedirão aos
colégios que desfilem juntos com os algozes dos estudantes. Seria necessário
que cada pai e cada mãe se compenetrassem de que a presença de seus filhos
nesse desfile é um auxílio aos carrascos que os espancam e metralham nas ruas.
Portanto, que cada um boicote esse desfile.
Esse boicote pode passar também às
moças, aquelas que dançam com cadetes e namoram jovens oficiais. Seria preciso
fazer hoje no Brasil com que as mulheres de 1968 repetissem as paulistas da
Guerra dos Emboabas e recusassem a entrada à porta de sua casa aqueles que
vilipendiam a Nação. Recusassem a aceitar aqueles que silenciam e, portanto, se
acumpliciam.
Discordar em silêncio pouco
adianta. Necessário se torna agir contra os que abusam das Forças Armadas
falando e agindo em seu nome. Creio senhor presidente, que é possível resolver
esta farsa, essa democratura, esse falso entendimento pelo boicote.
Enquanto não se pronunciarem os
silenciosos, todo e qualquer contato entre civis e militares deve cessar,
porque só assim conseguiremos fazer com que este país volte à democracia. Só
assim conseguiremos fazer com que os silenciosos que não compactuam com os
desmandos de seus chefes, sigam o magnífico exemplo dos 14 oficiais de Crateús
que tiveram a coragem e a hombridade de publicamente se manifestarem contra um
ato ilegal e arbitrário de seus superiores”.
Segundo o próprio deputado, o
discurso não passava de uma simples provocação. Porém as conseqüências foram
desproporcionais principalmente as medidas tomadas pelo governo militar.
Certamente foi um dos motivos para que fosse lamentavelmente decretado pelo Ato
Institucional n° 5.
Fred Costa
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