segunda-feira, 31 de agosto de 2020

O Bota-abaixo nas reformas do Rio de Janeiro.

 República Velha

 

O Bota-abaixo nas reformas do Rio de Janeiro

      Na passagem do século XIX para o XX ocorreram várias reformas que mudaram a paisagem da capital federal (Rio de Janeiro). Como a cidade ainda possuía características urbanas da época colonial, apesar da riqueza proporcionada pela cafeicultura e fábricas, havia a necessidade de modernizá-la arquitetonicamente. Esse projeto denominado de “regeneração” da cidade, que além de reformas urbanas e sanitárias, buscava a mudança nos costumes das pessoas.

        A capital brasileira ficava localizada entre o litoral e a serra do Mar, em um terreno cheio de morros e lagoas, além disso, sua geografia não favorecia o desenvolvimento do centro urbano. As ruas da cidade eram sujas e estreitas quase não havia saneamento básico. Doenças como varíola, malária, febre amarela e peste bubônica

      Antigos edifícios, transformados em cortiços no centro da cidade, eram habitados por milhares de família pobres, vivendo em situações precárias e sem condições mínimas de higiene. O porto da cidade não tinha estrutura para receber navios de grande porte, prejudicando a circulação de mercadorias entre a capital e outras regiões do Brasil e do mundo.

    

      Durante as reformas urbanas comandadas pelo prefeito Pereira Passos, muitos prédios antigos foram demolidos e milhares de pessoas ficaram desabrigadas. Este período da história do Rio de Janeiro ficou conhecido como Bota-abaixo. Um exemplo foi a construção da avenida Central, iniciada em 1904. Ela foi projetada  com o objetivo de melhorar o tráfego de pessoas e veículos e de embelezar o centro da cidade.

      Toda arquitetura ao longo da avenida Central foi refeita. Cerca de 640 prédios com fachadas em estilo colonial foram demolidos e substituídos por edifícios em estilo neoclássico, semelhante aos de Paris. As mudanças radicais surpreenderam os cariocas. O escritor Lima Barreto, ao falar de um país fictício chamado “República dos Estados Unidos da Bruzundanga”, fez uma sátira ao que acontecia no Rio de Janeiro naquele momento:

      [...] E eis a Bruzundanga, tomando dinheiro empretado para pôr as velhas casas de sua capital abaixo. De uma hora para outra, a antiga cidade desapareceu e outra surgiu como se fosse obtida por uma mutação de teatro. Havia mesmo na cousa muito de cenografia. Lima Barreto. Os Bruzundangas. In: Margarida de Souza Nevez; Alda Heizer. A ordem é o progresso: o Brasil de 1870 a 1910. 5 ed. São Paulo: Atual, 1991. p. 50.


      Além de uma capital “moderna”, as elites brasileiras desejavam que a população fosse “civilizada”, comportando-se de acordo com os padrões europeus. Por isso, vários costumes e tradições considerados pertubadores da ordem, como a serenata e o jogo de capoeira, foram duramente reprimidos durante a Primeira República. Tais eventos culminou com a Revolta da Vacina, onde populares enfrentaram forças policiais se negando a vacinação obrigatória.

Referências:

Lima Barreto. Os Bruzundangas. In: Margarida de Souza Nevez; Alda Heizer. A ordem é o progresso: o Brasil de 1870 a 1910. 5 ed. São Paulo: Atual, 1991. p. 50.

PELLEGRINI, Nelson; DIA, Adriano; GRINBERG, Keila. Vontade de saber história, 9° ano. 3ª ed. São Paulo: FTD, 2015.

 

Fred Costa

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário