domingo, 8 de novembro de 2020

Conheça mais à História - Griôs, contadores de história.

 Griôs, contadores de história

         Em várias sociedades da África ocidental, numa região que vai do Senegal, a oeste, até o Chade, a leste, existem pessoas responsáveis por guardar e transmitir oralmente a história de seu povo. São excelentes contadoras de histórias e têm grande capacidade de memorização. Conhecidas como griôs (de griot, palavra de origem francesa derivada de guiriot, que designa um tipo de músico ambulante de certas regiões da África), essas pessoas pertencem a uma casta inferior da sociedade muçulmana. Aprendem a arte de narrar ainda muito jovens e passam a vida toda memorizando e difundindo as histórias de seus antepassados.

       Os griôs tocam instrumentos musicais enquanto cantam suas narrativas. Portanto, são também músicos, além de contadores de histórias.

       A origem dos griôs é desconhecida. Segundo a tradição dos malinqués (etnia que habita diversas regiões da África ocidental), os griôs teriam surgido na época do profeta Maomé (século VII d. C.). Chamados de djelis na língua malinqué, os griôs seriam descendentes de Sourokata, um infiel (pessoa que não segue a religião considerada verdadeira ‘no caso, o islamismo’) que se converteu ao islamismo. Leia a seguir uma das versões da lenda sobre a origem dessa casta, contada por um griô da Costa do Marfim.

        Nosso antepassado é Sourakata. Ele não rezava. Nessa época, havia uma grande guerra. Sourokata não queria rezar e Maomé lhe perguntou: “Por que você não reza?”. Sourokata respondeu: “Eu não rezo!”. No auge da guerra, Sourokata foi preso porque não queria rezar. Enquanto o torturavam, ele gritou e pediu perdão. Então Maomé disse: “Como ele grita bem, não o matem. Ele vai continuar entre nós e gritar. Todos os filhos e netos de Sourokata serão griôs.

        Maomé deu a Sourokata uma agulha e disse:”Você deve costurar a cauda do meu cavalo”. Depois ele disse: “Se os marabutos (sacerdote muçulmano que leva uma vida desapegada das coisas materiais; é venerado durante a vida e considerado um santo após a sua morte) escreverem em papéis, costure pequenos saches de couro e guarde-os dentro”. Maomé disse ainda: “Não faça mal aos griôs”. Desde esse dia, quando há uma discussão, se um homem se irritar, o griô batem em seu tambor falante (Tambor em forma de ampulheta, colocado debaixo do braço e tocado com um aro de ferro com uma bola na ponta. Produz diversos sons, e o griô que o toca procura imitar com o tambor os sons de sua fala.) e diz: “Deixe o outro em paz!”.

Traduzido e adaptado de: ZEMP, Hugo. La légend dês griots malinké (a lenda dos griôs malinqué). Cahiers d’Études Africaines (Cadernos de Estudos Africanos), v. 6, n. 24, 1966. p. 616-617.

       Em muitas sociedades da África muçulmana, a expressão “gritar sobre alguém” significa dizer em voz alta o nome dessa pessoa, glorificar seu passado, recitar os nomes e gestos heróicos de seus ancestrais. É o que chamamos de “cantar suas glórias”. Essa é a principal atividade do griô.

        A lenda também fala de duas outras ocupações dessa casta: produzir objetos em couro e intervir nas disputas para acalmar os adversários. Por isso, apesar de pertencer a uma casta inferior, os griôs são muito respeitados nas sociedades tradicionais africanas, e sua palavra tem valor sagrado.

       Para os historiadores e outros estudiosos da cultura, os griôs também são muito importantes, pois preservam histórias e tradições que, por não serem escritas, seriam perdidas. Nós, que vivemos em sociedades de transmissão escrita, onde o livro parece ter mais importância do que a palavra falada, temos muito a aprender com esses povos. Seguindo seu exemplo, poderemos valorizar o saber dos mais velhos e desenvolver a função da memória, tão necessária na transmissão oral.

Referências:

VICENTINO, Cláudio; VICENTINO, José Bruno. Projeto mosaico: história – anos finais (ensino fundamental), 6° ano. 1ª ed. São Paulo: Scipione, 2015. p. 124-125.

 

Fred Costa

 

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