domingo, 19 de junho de 2022

Conheça mais à História - As mulheres no período imperial

 As mulheres no período imperial

            Durante muito tempo acreditou-se que as mulheres no Brasil Imperial (1822-1889) teriam uma vida restrita ao ambiente doméstico. Reprimidas primeiro pelos pais, e depois pelos maridos, elas viveriam submissas, sem vontade própria, desempenhando exclusivamente a função de mãe ou esposa. No entanto, pesquisas recentes mostram que elas assumiram muitos outros papéis, dependendo da sua condição social (ricas ou pobres), de sua cor (branca, pardas ou negras) e de seu estatuto jurídico (livres, libertas ou escravizadas).

           Para as mulheres livres, brancas e ricas, a mobilidade no espaço público era limitada. Elas só saíam às ruas acompanhadas e em poucas ocasiões: para visitar parentes, assistir a missas e, ocasionalmente, freqüentar óperas e outros espetáculos. Porém, diferentemente das mulheres de elite do período colonial (séculos XVII e XVIII), as da elite do Império tiveram mais acesso à educação. A maioria delas era instruída em casa, por freqüentar os primeiros colégios femininos fundados no século XIX. Além de leitura e escrita, a educação dessas moças incluía habilidades culinárias, rendas, bordados e, não menos importante, a habilidade de comandar os escravizados domésticos (mucamas, pajens, cozinheiros, amas, etc.), já que essa era uma de suas principais funções depois de casadas. Elas não eram, portanto, preparadas para a vida pública ou profissional, como os homens da elite na mesma época.


          As mulheres livres e pobres, que não podiam pagar escolas ou professores, raramente eram alfabetizadas, e o aprendizado para se tornarem “boas esposas e mães” se dava na prática. Muitas vezes, a luta pela sobrevivência as transformava em doceiras, costureiras, lavadeiras, lavradoras, tecelãs – profissões que lhes permitiam ganhar algum dinheiro. Algumas possuíam um ou dois escravizados, que podiam ser utilizados como vendedores de seus produtos, ou alugados para terceiros.

          Embora as mulheres fossem educadas para se submeter ao poder dos maridos, muitas delas chefiaram seus lares durante o século XIX. Na província de São Paulo, em 1872, cerca de 40% dos domicílios eram comandados por mulheres, as quais podiam ser solteiras, viúvas ou casadas com maridos ausentes por longos períodos ou desaparecidos. As mulheres de posses que ficavam viúvas por exemplo, além de chefiar os familiares, agregados (trabalhadores livres que moravam nas fazendas) e escravizados, passavam a administrar todo o patrimônio deixado pelo falecido esposo.

           No outro extremo dessa sociedade, estavam as mulheres escravizadas. Nas fazendas, elas podiam exercer afazeres domésticos (mucamas, amas de leite, cozinheiras, engomadeiras, lavadeiras, etc.) ou trabalhos de roça. Nas cidades, eram vistas vendendo quitutes, frutas, bebidas e outros produtos. Com isso, elas transitavam pelo ambiente urbano com muito mais freqüência do que as mulheres brancas e ricas.

          O casamento das mulheres escravizadas costumava ser permitido e, às vezes incentivando pelos senhores, desde que o marido fosse escolhido na mesma propriedade. No Brasil, foram raríssimos os matrimônios entre escravizados de proprietários diferentes, por isso exigiria que o casal vivesse na propriedade de um dos senhores, deixando o outro insatisfeito. Considerando que havia muito mais homens do que mulheres nas senzalas do sudeste cafeeiro, a maioria das mulheres escravizadas conseguia se casar e ter filhos.

           No Brasil do século XIX, a mulher não podia votar nem ser votada, por ser considerada “incapaz” de tomar decisões importantes (assim como as crianças e os escravizados). No entanto, considerando que a prática política vai muito além das eleições e da ocupação dos cargos públicos, podemos afirmar que muitas mulheres atuaram politicamente em momentos decisivos da história do Império. Um exemplo foi seu engajamento no movimento abolicionista, nas décadas de 1870 e 1880. Nos eventos culturais que promoviam a causa antiescravista, cantoras, atrizes, compositoras, poetisas e espectadoras ajudaram a arrecadar fundos para a libertação de escravizados, colaborando para o desmantelamento do regime escravista.

Referências:

VICENTINO, Cláudio; VICENTINO, José Bruno. Projeto mosaico: história – anos finais (ensino fundamental), 8° ano. 1ª ed. São Paulo: Scipione, 2015. p. 268-269.

 

Fred Costa

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