sábado, 23 de julho de 2022

Conheça mais à História - O espartilho, a bicicleta e a Primeira Guerra

 O espartilho, a bicicleta e a Primeira Guerra

Durante a Primeira Guerra, o vestuário feminino passou por mudanças profundas.

Na Belle Époque, a moeda eram as salas cheias, longas e com caudas, blusas de gola alta e acessórios floridos (chapéus e sombrinhas), tudo isso decorado com rendas, pregas, nervuras e babados. Para comprimir o abdome e afinar a cintura, as mulheres usavam espartilhos apertadíssimos, feitos de tecido resistente e modelados com arames, barbatanas de baleia ou lâminas de aço ou borracha. A pressão era tanta que chegava a lesionar a pele e os músculos, podendo até mesmo atingir os órgãos internos.

Durante a Primeira Guerra Mundial, a escassez de materiais e a forte contenção de despesas fizeram com que as peças de roupa se tornassem cada vez mais simples. Caudas e babados foram abandonados, pois os tecidos precisavam ser aproveitados ao máximo, como para as vestimentas dos soldados. As saias encurtaram, as mangas das blusas diminuíram e as peças em geral perderam volume, tudo isso decorrência da escassez de materiais.

A borracha e o couro passaram a ser usados na fabricação de instrumentos bélicos (como rodas de avião e cartucheiras para balas). Isso levou os franceses a produzir sapatos com sola de madeira e espartilhos com menos borracha. Ternos masculinos foram transformados em elegantes tailleurs para mulheres; chapéus passaram a ser produzidos com materiais até então descartáveis, como a serragem; paraquedas rasgados eram reutilizados para a confecção de vestidos de noiva. Até mesmo a largura dos cintos diminuiu, marcando a moda da época.

Além disso, com a ida dos homens para os campos de batalha, mais mulheres passaram a trabalhar fora de casa. Esse fato também promoveu mudanças nas vestimentas femininas, que tiveram de se adaptar às condições das fábricas, tornando-se mais leves e confortáveis, com cortes simples e retos.

Finalmente, o uso da bicicleta como meio de transporte levou muitas trabalhadoras a abandonar o uso de espartilho e a vestir roupas mais soltas e curtas. Desde o final do século XIX, aliás, a bicicleta vinha desempenhando um papel importante na luta feminina por direitos. Numa época dominada tradicionalmente pelos homens, o uso desse novo meio de transporte logo ganhou apoio de lideranças feministas:

“A mulher está pedalando em direção ao sufrágio”, disse a americana Elizabeth Staton (1815-1902), citando outro direito ainda por conquistar na época. A bicicleta é “igualitária e niveladora” e ajuda a “libertar o nosso sexo”, afirmou a presidente da Liga Francesa de Direitos da Mulher, Maria Pognon (1844-1925). Entre os americanos, o ciclismo ficou ligado à figura da New Woman [Nova Mulher], que contestava os tradicionais papéis femininos envolvendo-se com movimentos reivindicatórios, principalmente pelo direito de voto.

MELO, Victor Andrade de; SCHETINO, André. Liberdade em duas rodas. Revista de História, 16 jun. 2010. Disponível em: www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/liberdade-em-duas-rodas. Acesso em 5 out. 2014

Referências:

MELO, Victor Andrade de; SCHETINO, André. Liberdade em duas rodas. Revista de História, 16 jun. 2010. Disponível em: www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/liberdade-em-duas-rodas. Acesso em 5 out. 2014

 

VICENTINO, Cláudio; VICENTINO, José Bruno. Projeto mosaico: história – anos finais (ensino fundamental), 9° ano. 1ª ed. São Paulo: Scipione, 2015. p. 40-41.

 

Fred Costa

 

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