As mulheres no período imperial
Durante muito tempo acreditou-se que
as mulheres no Brasil Imperial (1822-1889) teriam uma vida restrita ao ambiente
doméstico. Reprimidas primeiro pelos pais, e depois pelos maridos, elas
viveriam submissas, sem vontade própria, desempenhando exclusivamente a função
de mãe ou esposa. No entanto, pesquisas recentes mostram que elas assumiram
muitos outros papéis, dependendo da sua condição social (ricas ou pobres), de
sua cor (branca, pardas ou negras) e de seu estatuto jurídico (livres, libertas
ou escravizadas).
Para as mulheres livres, brancas e
ricas, a mobilidade no espaço público era limitada. Elas só saíam às ruas
acompanhadas e em poucas ocasiões: para visitar parentes, assistir a missas e,
ocasionalmente, freqüentar óperas e outros espetáculos. Porém, diferentemente
das mulheres de elite do período colonial (séculos XVII e XVIII), as da elite
do Império tiveram mais acesso à educação. A maioria delas era instruída em
casa, por freqüentar os primeiros colégios femininos fundados no século XIX. Além
de leitura e escrita, a educação dessas moças incluía habilidades culinárias,
rendas, bordados e, não menos importante, a habilidade de comandar os
escravizados domésticos (mucamas, pajens, cozinheiros, amas, etc.), já que essa
era uma de suas principais funções depois de casadas. Elas não eram, portanto,
preparadas para a vida pública ou profissional, como os homens da elite na
mesma época.
Embora as mulheres fossem educadas
para se submeter ao poder dos maridos, muitas delas chefiaram seus lares
durante o século XIX. Na província de São Paulo, em 1872, cerca de 40% dos
domicílios eram comandados por mulheres, as quais podiam ser solteiras, viúvas
ou casadas com maridos ausentes por longos períodos ou desaparecidos. As mulheres
de posses que ficavam viúvas por exemplo, além de chefiar os familiares,
agregados (trabalhadores livres que moravam nas fazendas) e escravizados,
passavam a administrar todo o patrimônio deixado pelo falecido esposo.
No outro extremo dessa sociedade,
estavam as mulheres escravizadas. Nas fazendas, elas podiam exercer afazeres
domésticos (mucamas, amas de leite, cozinheiras, engomadeiras, lavadeiras,
etc.) ou trabalhos de roça. Nas cidades, eram vistas vendendo quitutes, frutas,
bebidas e outros produtos. Com isso, elas transitavam pelo ambiente urbano com
muito mais freqüência do que as mulheres brancas e ricas.
O casamento das mulheres
escravizadas costumava ser permitido e, às vezes incentivando pelos senhores,
desde que o marido fosse escolhido na mesma propriedade. No Brasil, foram
raríssimos os matrimônios entre escravizados de proprietários diferentes, por
isso exigiria que o casal vivesse na propriedade de um dos senhores, deixando o
outro insatisfeito. Considerando que havia muito mais homens do que mulheres
nas senzalas do sudeste cafeeiro, a maioria das mulheres escravizadas conseguia
se casar e ter filhos.
No Brasil do século XIX, a mulher
não podia votar nem ser votada, por ser considerada “incapaz” de tomar decisões
importantes (assim como as crianças e os escravizados). No entanto,
considerando que a prática política vai muito além das eleições e da ocupação
dos cargos públicos, podemos afirmar que muitas mulheres atuaram politicamente
em momentos decisivos da história do Império. Um exemplo foi seu engajamento no
movimento abolicionista, nas décadas de 1870 e 1880. Nos eventos culturais que
promoviam a causa antiescravista, cantoras, atrizes, compositoras, poetisas e
espectadoras ajudaram a arrecadar fundos para a libertação de escravizados,
colaborando para o desmantelamento do regime escravista.
Referências:
VICENTINO,
Cláudio; VICENTINO, José Bruno. Projeto
mosaico: história – anos finais (ensino fundamental), 8° ano. 1ª ed. São
Paulo: Scipione, 2015. p. 268-269.
Fred Costa
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