O espartilho, a bicicleta e a Primeira Guerra
Durante a Primeira Guerra, o vestuário feminino passou
por mudanças profundas.
Na Belle Époque,
a moeda eram as salas cheias, longas e com caudas, blusas de gola alta e
acessórios floridos (chapéus e sombrinhas), tudo isso decorado com rendas,
pregas, nervuras e babados. Para comprimir o abdome e afinar a cintura, as
mulheres usavam espartilhos apertadíssimos, feitos de tecido resistente e
modelados com arames, barbatanas de baleia ou lâminas de aço ou borracha. A
pressão era tanta que chegava a lesionar a pele e os músculos, podendo até
mesmo atingir os órgãos internos.
Durante a Primeira Guerra Mundial, a escassez de
materiais e a forte contenção de despesas fizeram com que as peças de roupa se
tornassem cada vez mais simples. Caudas e babados foram abandonados, pois os
tecidos precisavam ser aproveitados ao máximo, como para as vestimentas dos
soldados. As saias encurtaram, as mangas das blusas diminuíram e as peças em
geral perderam volume, tudo isso decorrência da escassez de materiais.
A borracha e o couro passaram a ser usados na
fabricação de instrumentos bélicos (como rodas de avião e cartucheiras para
balas). Isso levou os franceses a produzir sapatos com sola de madeira e
espartilhos com menos borracha. Ternos masculinos foram transformados em
elegantes tailleurs para mulheres;
chapéus passaram a ser produzidos com materiais até então descartáveis, como a
serragem; paraquedas rasgados eram reutilizados para a confecção de vestidos de
noiva. Até mesmo a largura dos cintos diminuiu, marcando a moda da época.
Além disso, com a ida dos homens para os campos de
batalha, mais mulheres passaram a trabalhar fora de casa. Esse fato também
promoveu mudanças nas vestimentas femininas, que tiveram de se adaptar às
condições das fábricas, tornando-se mais leves e confortáveis, com cortes
simples e retos.
Finalmente, o uso da bicicleta como meio de transporte
levou muitas trabalhadoras a abandonar o uso de espartilho e a vestir roupas
mais soltas e curtas. Desde o final do século XIX, aliás, a bicicleta vinha
desempenhando um papel importante na luta feminina por direitos. Numa época
dominada tradicionalmente pelos homens, o uso desse novo meio de transporte
logo ganhou apoio de lideranças feministas:
“A mulher está pedalando em direção
ao sufrágio”, disse a americana Elizabeth Staton (1815-1902), citando outro
direito ainda por conquistar na época. A bicicleta é “igualitária e niveladora”
e ajuda a “libertar o nosso sexo”, afirmou a presidente da Liga Francesa de
Direitos da Mulher, Maria Pognon (1844-1925). Entre os americanos, o ciclismo
ficou ligado à figura da New Woman [Nova Mulher], que contestava os
tradicionais papéis femininos envolvendo-se com movimentos reivindicatórios,
principalmente pelo direito de voto.
MELO, Victor
Andrade de; SCHETINO, André. Liberdade em duas rodas. Revista de História, 16 jun. 2010. Disponível em: www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/liberdade-em-duas-rodas.
Acesso em 5 out. 2014
Referências:
MELO,
Victor Andrade de; SCHETINO, André. Liberdade em duas rodas. Revista de História, 16 jun. 2010.
Disponível em: www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/liberdade-em-duas-rodas.
Acesso em 5 out. 2014
VICENTINO,
Cláudio; VICENTINO, José Bruno. Projeto
mosaico: história – anos finais (ensino fundamental), 9° ano. 1ª ed. São
Paulo: Scipione, 2015. p. 40-41.
Fred Costa