domingo, 10 de julho de 2022

Documentos Históricos - Vestígios arcaicos

 Vestígios arcaicos

         Em 2008, o repórter Mário Magalhães e o repórter fotográfico Joel Silva elaboraram uma matéria que investigava as condições de vida e o trabalho dos cortadores de cana no interior do estado de São Paulo. Abaixo, leia um trecho da reportagem.

Vestígios arcaicos

         Cor da pele, vocabulário e analfabetismo remetem cortadores de cana de São Paulo aos tempos do escravismo.

          O cenário verdejante que pigmenta as fotografias e colore o horizonte não passa de ilusão – o tom do canavial é outro. A fuligem das queimadas ensombrece as varas de cana de açúcar e torna rubro-negra a terra roxa em que outrora se fincavam cafezais. Fragmentos da palha incinerada se amalgamam com o suor dos rostos e desenham máscaras escuras. A cor predominante dos canavieiros, de banho tomado, não muda.

         São negros – a soma de “pretos” e “pardos” – 63,7% dos trabalhadores no cultivo da cana no país. A proporção supera os 43,4% de negros na PEA (População Economicamente Ativa) e os 55% na PEA rural.

            [...]

           Traços raciais e instrumentos de ofício se mantêm, mas o anacronismo vai além da semelhança de personagens dos retratos atuais com os das pinceladas do século retrasado. É como se estatuto e cultura escravista teimassem em permanecer, assim como um pé de cana se agarra ao solo e por vezes rende dez safras.

        “Já conversei com o meu feitor”, diz um canavieiro, sobre a autorização para que ele fosse fotografado para a reportagem (pedido negado). “O meu feitor é bom comigo”, concede outro.

            Inexiste conteúdo pejorativo, na boca dos cortadores, ao pronunciar a palavra. No Houaiss, uma acepção de feitor: “Diz-se de encarregado dos trabalhadores escravos”. Os chefes de turma assim são chamados na roça. Em meio ao canavial, o cortador cuida do seu “eito”. “Não paro até acabar o meu eito”, conta um. O dicionário define eito como “plantação em que os escravos trabalhavam”.

            MAGALHÃES, Mário; SILVA, Joel. Vestígios arcaicos. Folha de S. Paulo, São Paulo, 24 ago. 2008. Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs2408200817.htm>. Acesso em: 31 maio 2015.

Referência:

MAGALHÃES, Mário; SILVA, Joel. Vestígios arcaicos. Folha de S. Paulo, São Paulo, 24 ago. 2008. Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs2408200817.htm>. Acesso em: 31 maio 2015.

VICENTINO, Cláudio; VICENTINO, José Bruno. Projeto mosaico: história – anos finais (ensino fundamental), 8° ano. 1ª ed. São Paulo: Scipione, 2015. p. 313.

 

Fred Costa

 

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