sábado, 9 de julho de 2022

Conheça mais à História - Manifestações culturais antiescravistas no Brasil do século XIX

 Manifestações culturais antiescravistas no Brasil do século XIX

            Foi no decorrer dos anos 1870 e 1880 que o movimento abolicionista ganhou força no Brasil, sobretudo nas grandes cidades, onde políticos, advogados, jornalistas, profissionais liberais e artistas se envolveram na militância contra a escravidão.

            Na década de 1870, a ação abolicionista ficou praticamente restrita aos debates parlamentares, aos artigos de jornais e à esfera das ações judiciais. A partir dos anos 1880, porém, as ideias antiescravistas ganharam as ruas e, principalmente, os teatros, onde eram realizadas conferências, matineés e benefícios abolicionistas que buscavam sensibilizar e mobilizar o público para a causa antiescravista.

            As conferências abolicionistas eram geralmente proferidas por um intelectual negro (como o jornalista José do Patrocínio ou o médico Vicente de Souza) e seguidas de espetáculos teatrais ou apresentações musicais. As matineés, que aconteciam sempre nas tardes de domingo, eram programas familiares freqüentadas por diversos grupos sociais, inclusive escravizados. Após uma programação variada, que incluía concertos musicais, conferências abolicionistas e pequenas peças teatrais, os organizadores faziam subir ao palco um escravizado, que recebia sua carta de alforria diante dos espectadores. Estes aplaudiam e atiravam flores, num final emocionante.

            Um grande número de artistas se envolveu na luta contra a escravidão. Alguns ficaram muito famosos na época, mas hoje são poucos conhecidos, como o ator Correia Vasquez. Outros alcançaram fama mais duradoura, como o maestro mulato Carlos Gomes e a compositora Chiquinha Gonzaga. O primeiro tornou-se um dos ícones do  movimento abolicionista, quando voltou ao Brasil após se consagrar como compositor na Itália. A segunda chegou a vender suas composições de porta em porta, a fim de arrecadar dinheiro para libertar cativos.

            Outro tipo de manifestações cultural contra a escravidão foram as “procissões cívicas”, que misturavam elementos das paradas militares (como as bandas de música) e das procissões católicas (como estandartes, as bandeiras e os hinos entoados pelos participantes). Em geral, essas procissões costumavam se dirigir a um teatro, onde, na sequência, acontecia uma conferência. Todavia, em vez do caráter comemorativo das paradas e procissões tradicionais, essas manifestações tinham um sentido de protesto.

            Todos esses eventos eram organizados pelas associações abolicionistas criadas em todo o Império. Só na capital, em 1883, havia vinte associações desse tipo que foram reunidas por José do Patrocínio e André Rebouças na Confederação Abolicionistas (CA) criada naquele ano. Essas agremiações congregavam indivíduos de vários grupos sociais. Foram criadas no Rio de Janeiro, entre 1883 e 1884, associações abolicionistas compostas por artistas, advogados, imigrantes portugueses, tipógrafos, empregados do comércio, cozinheiros, mulheres, meninos, e até de ex-escravizados. Essa variedade de atores sociais também estava presente nas platéias dos espetáculos.

Referências:

VICENTINO, Cláudio; VICENTINO, José Bruno. Projeto mosaico: história – anos finais (ensino fundamental), 8° ano. 1ª ed. São Paulo: Scipione, 2015. p. 301.

 

Fred Costa

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