Manifestações culturais antiescravistas no Brasil do século XIX
Foi no decorrer dos anos 1870 e 1880
que o movimento abolicionista ganhou força no Brasil, sobretudo nas grandes
cidades, onde políticos, advogados, jornalistas, profissionais liberais e
artistas se envolveram na militância contra a escravidão.
Na década de 1870, a ação
abolicionista ficou praticamente restrita aos debates parlamentares, aos
artigos de jornais e à esfera das ações judiciais. A partir dos anos 1880,
porém, as ideias antiescravistas ganharam as ruas e, principalmente, os
teatros, onde eram realizadas conferências, matineés
e benefícios abolicionistas que buscavam sensibilizar e mobilizar o público
para a causa antiescravista.
As conferências abolicionistas eram
geralmente proferidas por um intelectual negro (como o jornalista José do
Patrocínio ou o médico Vicente de Souza) e seguidas de espetáculos teatrais ou
apresentações musicais. As matineés,
que aconteciam sempre nas tardes de domingo, eram programas familiares freqüentadas
por diversos grupos sociais, inclusive escravizados. Após uma programação
variada, que incluía concertos musicais, conferências abolicionistas e pequenas
peças teatrais, os organizadores faziam subir ao palco um escravizado, que
recebia sua carta de alforria diante dos espectadores. Estes aplaudiam e
atiravam flores, num final emocionante.
Um grande número de artistas se
envolveu na luta contra a escravidão. Alguns ficaram muito famosos na época, mas
hoje são poucos conhecidos, como o ator Correia Vasquez. Outros alcançaram fama
mais duradoura, como o maestro mulato Carlos Gomes e a compositora Chiquinha
Gonzaga. O primeiro tornou-se um dos ícones do
movimento abolicionista, quando voltou ao Brasil após se consagrar como
compositor na Itália. A segunda chegou a vender suas composições de porta em
porta, a fim de arrecadar dinheiro para libertar cativos.
Outro tipo de manifestações cultural
contra a escravidão foram as “procissões cívicas”, que misturavam elementos das
paradas militares (como as bandas de música) e das procissões católicas (como
estandartes, as bandeiras e os hinos entoados pelos participantes). Em geral,
essas procissões costumavam se dirigir a um teatro, onde, na sequência,
acontecia uma conferência. Todavia, em vez do caráter comemorativo das paradas
e procissões tradicionais, essas manifestações tinham um sentido de protesto.
Todos esses eventos eram organizados
pelas associações abolicionistas criadas em todo o Império. Só na capital, em
1883, havia vinte associações desse tipo que foram reunidas por José do
Patrocínio e André Rebouças na Confederação Abolicionistas (CA) criada naquele
ano. Essas agremiações congregavam indivíduos de vários grupos sociais. Foram criadas
no Rio de Janeiro, entre 1883 e 1884, associações abolicionistas compostas por
artistas, advogados, imigrantes portugueses, tipógrafos, empregados do
comércio, cozinheiros, mulheres, meninos, e até de ex-escravizados. Essa variedade
de atores sociais também estava presente nas platéias dos espetáculos.
Referências:
VICENTINO,
Cláudio; VICENTINO, José Bruno. Projeto
mosaico: história – anos finais (ensino fundamental), 8° ano. 1ª ed. São
Paulo: Scipione, 2015. p. 301.
Fred Costa
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