Os perigos relatados na Carta de Anchieta
O texto a seguir é o trecho de uma
carta escrita pelo padre Anchieta (1534-1597), missionário que fundou o colégio
jesuíta em torno do qual se organizou a vila de São Paulo de Piratininga.
Anchieta escreveu cartas, sermões, poesias, peças de teatro e a primeira
gramática da língua tupi. A carta reproduzida abaixo, de 1° de junho de 1560,
foi enderaçada ao seu superior, padre Diogo Laínes, em Roma.
Dos
índios do sertão muitas vezes estamos com receio da guerra, padecendo sempre
suas ameaças. Mataram há poucos dias alguns portugueses, que vinham do
Paraguai, ande haviam ido. [...] Também os inimigos [os Tamoios], com assaltos
contínuos, acometem as aldeias, destroem os mantimentos e levam muitos cativos.
No anos passado, deram uma casa, aqui junto da vila, e cativaram muitas
mulheres [...]. Antes destes, haviam vindo outros, com os quais vieram quatro
franceses, que com pretexto de ajudar aos inimigos na guerra, se queriam passar
a nós, o que puderam fazer sem muito perigo. Estes, como depois se soube,
apartaram-se dos seus, que estão entre os inimigos, numa povoação, que nós
chamamos Rio de Janeiro, daqui a cinqüenta léguas, e têm trato com eles. Aí fizeram
casas e edificaram uma torre mui provida de artilharia e forte por todas as
partes, onde se diziam serem mandados pelo rei da França e assenhorear-se
daquela terra. Todos estes eram hereges, aos quais mandou João Calvino dois, a que
eles chamam ministros, para lhes ensinarem o que se havia de ter e crer.
[...]
um deles, instruído nas artes liberais, grego e hebraico, e mui versado nas
Sagradas Escrituras, [...] veio-se para cá, com outros três companheiros
idiotas (iletrados) que, como hóspedes e peregrinos, foram recebidos e tratados
mui benignamente.
[...]
Não se passaram muitos dias, quando ele começou a vomitar de seu estômago seus
fétidos erros, dizendo muitas coisas das imagens dos santos [...], do
Santíssimo Corpo de Cristo, do Romano Pontífice, das indulgências e outras
muitas coisas, que temperava com certo sal de graça, de maneira que ao paladar
do povo ignorante, não somente não pareciam amargas, mas até muito doces. [...]
Depois
disso, o mandaram à Bahia, para que de lá se conhecesse de sua causa mais
largamente. [...]
Deste
soube o governador a determinação dos franceses. E com naus armadas veio
combater a fortaleza. Daqui lhe foi socorro em navios e canoas.
ANCHIETA, José
de. Minhas cartas. São Paulo: Loyola,
1984. p. 82-83.
Referência:
ANCHIETA,
José de. Minhas cartas. São Paulo: Loyola, 1984.
VICENTINO,
Cláudio; VICENTINO, José Bruno.Projeto
mosaico: história – anos finais (ensino fundamental), 7° ano. 1ª ed. São Paulo:
Scipione, 2015. p. 243.
Fred Costa
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