História e literatura nas independências hispano-americanas
Uma vez realizadas as independências
na América, os territórios que antes pertenciam à Espanha se fragmentaram numa
série de repúblicas independentes. Mas o que tinha o México de tão específico a
ponto de se diferenciar da Guatemala? O que separava os argentinos dos
paraguaios, ou a Colômbia do Equador? Que características eram próprias do Peru
e não da Bolívia?
Para justificar sua existência, as
recém-criadas nações hispano-americanas precisaram forjar uma identidade,
escolhendo entre os diversos aspectos de seu povo e de sua cultura aqueles
considerados mais “característicos”, que as diferenciariam tanto da Espanha
como das nações vizinhas.
As produções literárias tiveram um
papel muito importante nesse processo. Elas não só buscaram reforçar as
características das novas sanções, formando uma identidade cultural e nacional
entre os americanos, como também divulgaram propostas políticas que
determinaram os rumos dos novos governos. Além de divertir e entreter o leitor,
grande parte da literatura hispano-americana do século XIX foi, sobretudo,
patriótica.
Apesar das variações de estilo e de
conteúdo, podemos dizer que, nas literaturas hispano-americanas da primeira
metade do século XIX, predominou a narrativa romântica, inspirada no romantismo
europeu.
Os temas mais apreciados pelos
hispano-americanos eram a história do passado colonial, a paisagem natural
tipicamente americana e o convívio entre os diferentes tipos humanos que
habitavam o continente. Procurava-se validar as recentes independências com a
descrição de uma paisagem exuberante e própria da América, com um suposto
passado heróico dos povos nativos, com o convívio relativamente harmonioso nas
sociedades tipicamente mestiças do continente. Comparavam-se as novas nações
europeias. As primeiras eram simbolizadas pela beleza natural, harmonia social,
pureza e valentia dos tipos humanos, e as segundas pela malícia e pelos maus
vícios dos conquistadores e colonizadores.
Alguns dos principais autores
hispanos-americanos foram:
·
O venezuelano Simón Bolívar (1783-1830), líder revolucionário da independência,
que publicou Mi delírio en el Chimborazo,
em 1824;
·
O venezuelano Andrés Bello (1781-1865), professor de Bolívar, integrou a primeira
missão diplomática do governo da Venezuela em Londres, anos mais tarde. Bello
publicou muitos textos, como os poemas Agricultura
de La Zona Tórrida e Poema sobre
América, e foi autor do Código Civil Chileno;
·
O argentino Domingo Faustino Sarmiento (1811-1888) escreveu obras literárias
como verdadeiros programas políticos, seus textos são expressão de protesto e
luta por concepção políticas e sociais. Sua principal obra é Civilização e barbárie: vida de Juan Facundo
Quiroga, de 1845. Nesse trabalho o autor apresentou críticas aos caudilhos
locais e um plano político para a reconstrução nacional, que estava baseado
principalmente na educação pública, na imigração europeia e no progresso
técnico e econômico. Destacam-se ainda suas obras Recuerdos de Provincia, Viajes por Europa, África y América, La
Educación Popular.
Referências:
VICENTINO,
Cláudio; VICENTINO, José Bruno. Projeto
mosaico: história – anos finais (ensino fundamental), 8° ano. 1ª ed. São
Paulo: Scipione, 2015. p. 136-137.
Fred Costa