As relações de poder no Reino do Congo
O texto a seguir apresenta algumas
diferenças entre as visões construídas pelos conquistadores europeus e as
estruturas políticas locais no Congo.
Nos
documentos deixados pelos primeiros agentes da monarquia portuguesa, por
comerciantes e missionários enviados ao Congo, toda região é qualificada de “reino”,
os governantes de “reis”, as demais lideranças locais como “vassalos” e as
áreas próximas a Mbanza Congo como “províncias”. Ao fazer isso, os portugueses
projetavam a realidade que eles conheciam na Europa para a África, mas na
prática as diferenças entre os seus modelos de governo e o dos africanos eram
significativas.
Vista
pelos europeus, a monarquia do Congo logo pareceu fraca porque não conseguia se
impor perante poderes provinciais, considerados periféricos e dependentes. Mas o
que acontecia de fato era algo diferente. Numa análise sobre os fundamentos da
organização social propriamente congolesa, o que se verifica é que o principal
pular de sustentação dessa sociedade era a linhagem, que representava a
perpetuação dos ancestrais, em cuja memória assentava toda a legitimidade do
poder de mando. Como nos demais pequenos Estados, em outras chefaturas do Congo
a sucessão ao trono não se fazia de modo hereditário, mas dependia da
indicação, aprovação ou eleição pelos chefes locais de linhagens. Seria muito
difícil encontrar, nessas condições, monarquias despóticas ou centralizadas,
com as quais os europeus estavam acostumados.
Mesmo
que pertencessem todos à prestigiosa linhagem Lukeni, os indivíduos que se
tornassem manicongo dependiam de diversas instâncias de negociação para
alcançar o poder. O sistema de sucessão se fazia através da linhagem materna, e
não da linhagem paterna, de modo que as relações entre predecessores e
sucessores não ocorriam de forma direta, e qualquer membro masculino de
qualquer ramo de linhagem podia reivindicar o trono. A decisão final dependia
de negociações entre os chefes de linhagens e clãs, ou da força militar
colocada à disposição dos concorrentes, sendo freqüentes as rivalidades e
assassinatos nos períodos de sucessão. Se de um lado esse sistema aparentemente
confuso parecia provocar a dispersão do poder, por outro preservava o
equilíbrio da sociedade, que estava acima do poder do Estado.
Esse
equilíbrio foi rompido nas primeiras décadas do século XVI, durante o governo
de D. Afonso I [Mvemba-a-Zinga, 1509-1540]. Tratado pelos reis portugueses como
um “irmão”, esse governante africano tomou medidas que resultaram numa ampla
modificação das formas de organização social do Congo ao enviar jovens para
serem batizados e cristianizados em Portugal, além de solicitar a implantação
do cristianismo e ao proibir o culto dos fetiches, que representavam aos ancestrais
divinizados.
MACEDO, José
Rivair. História da África. São
Paulo: Contexto, 2013. p. 85-86.
Referência:
MACEDO,
José Rivair. História da África. São Paulo: Contexto, 2013.
VICENTINO,
Cláudio; VICENTINO, José Bruno.Projeto
mosaico: história – anos finais (ensino fundamental), 7° ano. 1ª ed. São Paulo:
Scipione, 2015. p. 277.
Fred Costa
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