sábado, 12 de fevereiro de 2022

Documentos Históricos - As relações de poder no Reino do Congo

 As relações de poder no Reino do Congo

       O texto a seguir apresenta algumas diferenças entre as visões construídas pelos conquistadores europeus e as estruturas políticas locais no Congo.

   Nos documentos deixados pelos primeiros agentes da monarquia portuguesa, por comerciantes e missionários enviados ao Congo, toda região é qualificada de “reino”, os governantes de “reis”, as demais lideranças locais como “vassalos” e as áreas próximas a Mbanza Congo como “províncias”. Ao fazer isso, os portugueses projetavam a realidade que eles conheciam na Europa para a África, mas na prática as diferenças entre os seus modelos de governo e o dos africanos eram significativas.

    Vista pelos europeus, a monarquia do Congo logo pareceu fraca porque não conseguia se impor perante poderes provinciais, considerados periféricos e dependentes. Mas o que acontecia de fato era algo diferente. Numa análise sobre os fundamentos da organização social propriamente congolesa, o que se verifica é que o principal pular de sustentação dessa sociedade era a linhagem, que representava a perpetuação dos ancestrais, em cuja memória assentava toda a legitimidade do poder de mando. Como nos demais pequenos Estados, em outras chefaturas do Congo a sucessão ao trono não se fazia de modo hereditário, mas dependia da indicação, aprovação ou eleição pelos chefes locais de linhagens. Seria muito difícil encontrar, nessas condições, monarquias despóticas ou centralizadas, com as quais os europeus estavam acostumados.

  Mesmo que pertencessem todos à prestigiosa linhagem Lukeni, os indivíduos que se tornassem manicongo dependiam de diversas instâncias de negociação para alcançar o poder. O sistema de sucessão se fazia através da linhagem materna, e não da linhagem paterna, de modo que as relações entre predecessores e sucessores não ocorriam de forma direta, e qualquer membro masculino de qualquer ramo de linhagem podia reivindicar o trono. A decisão final dependia de negociações entre os chefes de linhagens e clãs, ou da força militar colocada à disposição dos concorrentes, sendo freqüentes as rivalidades e assassinatos nos períodos de sucessão. Se de um lado esse sistema aparentemente confuso parecia provocar a dispersão do poder, por outro preservava o equilíbrio da sociedade, que estava acima do poder do Estado.

  Esse equilíbrio foi rompido nas primeiras décadas do século XVI, durante o governo de D. Afonso I [Mvemba-a-Zinga, 1509-1540]. Tratado pelos reis portugueses como um “irmão”, esse governante africano tomou medidas que resultaram numa ampla modificação das formas de organização social do Congo ao enviar jovens para serem batizados e cristianizados em Portugal, além de solicitar a implantação do cristianismo e ao proibir o culto dos fetiches, que representavam aos ancestrais divinizados.

MACEDO, José Rivair. História da África. São Paulo: Contexto, 2013. p. 85-86.

Referência:

MACEDO, José Rivair. História da África. São Paulo: Contexto, 2013.

VICENTINO, Cláudio; VICENTINO, José Bruno.Projeto mosaico: história – anos finais (ensino fundamental), 7° ano. 1ª ed. São Paulo: Scipione, 2015. p. 277.

 

Fred Costa

 

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