sábado, 26 de fevereiro de 2022

Documentos Históricos - Os agudás

 Os agudás

           Leia o trecho de um artigo a seguir sobre os agudas:

Em janeiro, as tradicionais homenagens a Nosso Senhor do Bonfim em Salvador ecoam do outro lado do Atlântico, deixando ainda mais claro os laços culturais que há séculos aproximam a Bahia da África. No Sul do Benin, homens e mulheres vestem uma faixa verde e amarela sobre o peito e seguem rumo a missas para o padroeiro, cerimônias cristãs formais que são acompanhadas por cortejos carnavalescos pelas ruas de cidades como Uidá e Porto-Novo. Identificado como Oxalá (o orixá criador da humanidade) no candomblé baiano, o Senhor do Bonfim é um elo entre dois mundos físicos e espirituais, separados por um oceano e marcados pelo estigma da escravidão. A devoção tem causa nobre: à África nos séculos 18 e 19, tal viagem de volta à terra natal significava um “bom fim”, um bom destino.

O culto a um santo católico é um dos traços marcantes dos “brasileiros” que habitam a faixa costeira do Benim, do Toga e da Nigéria. Os agudas, como são conhecidos – a palavra deriva de “ajuda”, nome português da cidade de Uidá, movimentado entreposto negreiro da África ocidental no passado -, integram famílias que descendem de escravos e de comerciantes baianos lá estabelecidos no auge do tráfico humano entre os dois continentes. Possuem sobrenomes como Souza, Silva, Medeiros, Almeida, Aguiar, Campos, entre outros, dançam a “burrinha”, uma versão arcaica do bumba meu boi, e se reúnem nas festas ao redor de uma feijoada ou de um kousidou. Não raro, os agudás mais velhos se saúdam com um singelo “Bom dia, como passou?”, e a resposta não demora: “Bem, brigado”.

“O português chegou a ser língua franca no Benin na época da implantação da administração colonial francesa”, observa o antropólogo Milton Guran, pesquisador do Laboratório de História Oral e imagem da Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro, em seu livro da Missão Católica de Lyon, que se estabeleceu em Uidá em 1862, ensinava em português aos filhos dos retornados, que levaram para a África negra aspectos da cultura ocidental, como técnicas de arquitetura e engenharia (a alvenaria), festas religiosas, hábitos alimentares (a mandioca, o doce de coco), organização familiar patriarcal e uso de sobrenomes. “A presença brasileira foi tão marcante nesse trecho da costa africana entre os séculos 18 e 19 que poderíamos falar de uma colonização informal”, analisa Guran. “É exemplo único de implantação de uma cultura brasileira – no caso, a baiana – fora de nossas fronteiras”.

Para os governantes do reino do Daomé (antigo nome do Benin), o comércio de cativos era um projeto econômico oficial, de desenvolvimento e fortalecimento de um Estado. Esse ambiente foi favorável à chegada de brasileiros dispostos a trabalhar como negreiros, entre os quais o lendário Francisco Félix de Souza. Filho de índia com português, Souza nasceu na Bahia, em 1754, e desembarcou no Daomé, acredita-se, em 1788. Escrivão e contador do Forte São João Batista de Ajuda, em Uidá, logo tornou-se mercador influente – dependia dele a entrada ao reino de produtos como pólvora, fuzis, cachaça – e galgou a aura de mito nos relatos de viagem da época, alardeado por manter 2 mil escravos em seus barracões [...].

RIBEIRO, Ronaldo. Os agudas. Disponível em: <viajeaqui.abril.com.br/matérias/agudas-africa-brasil#8>. Acesso em: 26 mar. 2015.


Referência:

RIBEIRO, Ronaldo. Os agudas. Disponível em: <viajeaqui.abril.com.br/matérias/agudas-africa-brasil#8>. Acesso em: 26 mar. 2015.

VICENTINO, Cláudio; VICENTINO, José Bruno.Projeto mosaico: história – anos finais (ensino fundamental), 7° ano. 1ª ed. São Paulo: Scipione, 2015. p. 294.

 

Fred Costa

 

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